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Edição 15 site

V A L E A P E N A L E B RM A R DIVIRTA-SE Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novi- nha, mas com um maravilhoso pre- dicado nominal. Era ingênua, silábica, um pou- co átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por leituras e filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozi- nhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportuni- dade, começou a se insinuar, a per- guntar, a conversar. O artigo feminino deixou as reti- cências de lado e permitiu esse pe- queno índice. De repente, o elevador para, só com os dois dentro. Ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinô- nimos. Pouco tempo depois, já esta- vam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a se movimentar, só que em vez de descer, sobe e para justamente no andar do substantivo. Ele usou toda a sua flexão verbal e entrou com ela em seu aposto. Ligou o fonema e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gos- tosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar. Ela foi deixando, ele foi usando ser forte adjunto adverbial e rapida- mente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto. Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário e ele sentindo seu ditongo crescente. Se abraçaram, numa pontuação tão mi- 44 Dezembro | 2015 núscula, que nem um período sim- ples passaria entre os dois. Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula; ele não per- deu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele e foram para o co- mum de dois gêneros. Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise e ele, com todo o seu predicativo do obje- to, ia tomando conta. Estavam na posição de primeira e segunda pessoa do singular, ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pro- nome do seu grande travessão for- çando aquele hífen ainda singular. Nisso, a porta abriu repentinamen- te. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo e entrou, dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram gramatical- mente, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica. O verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história. Os dois e olharam e viram que isso era melhor do que uma metáfo- ra por todo o edifício. O verbo auxi- liar se entusiasmou e mostrou o seu adjunto adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo ab- soluto. Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apon- tando para seus objetos. Foi chegan- do cada vez mais perto, comparan- do o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as condi- ções eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo e culmina- ria com um complemento verbal no artigo feminino. O substantivo, vendo que pode- ria se transformar num artigo inde- finido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenati- va conclusiva. *Redação de uma aluna do curso de Letras da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), vencedora de concurso interno promovido pelo pro- fessor titular de Gramática Portugue- sa no ano de 2008.

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