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bualRevisitado110414

1 Bual paisagens abertas de dentro para fora do artista (“Vida das Coisas Interiores”) e de fora para dentro (o seu testemunho existencial) – tudo carregado de um sentimento de “caminhada alastrante”. Pintor, então, de um amplo círculo de luz, na exultação de matérias sempre sémicas e espiritualizadas – como Bual as plasmou nos seus admiráveis conjuntos temáticos. A sua pintura ignora qualquer “pose”, e do mesmo modo jamais contempla cânones teoréticos ou “guloseimas” formais a que, aliás, o pintor sempre foi alheio. Este se integra numa procura de informalidade e despojamento (vide “Descarnações” e “Crucificações”) e naquilo a que um filósofo de Arte catalão designou como “Bual, o la preocupación”. Essa “preocupação” afigurava- se desde logo nas densas atmosferas dos quadros dos anos sessenta, ligados a uma certa visão da “condição humana”, àquilo a que Bual costumava chamar de “arena dramática” e cuja ambiência de algum modo se manteve no geral de todos os andamentos da sua obra, mesmo até aos “Sopros de Ser”. No inesquecível atelier da Amadora, pude assistir, em múltiplas ocasiões, à criação de inteiras sequências pictóricas que considero das mais marcantes da Pintura Portuguesa Contemporânea. Recordo os quadros a emergir de admiráveis ímpetos de claro-escuro… - ”Encontro”, como metáfora gestual de “destino”; e “Fuga”, como afirmação do que Bual referia como sua “pintura anti-destino”, ou seja, conquista de um espaço pictural de significação vital e vitalizadora, sem constrições, de saudável ruptura com o “bem-posto”, como se impunha na conjuntura histórica de Portugal antes de Abril. Lembro ainda os Ciclos “Raíz e Cântico”, desdobrando-se, primeiro nas “Homenagens” (ao “Pai”, de óbvia evocação afectiva, e a “Beethoven”, pela conotação entre ritmos musicais e a plasticidade introspectiva em que Bual se exprimia; depois a magistral fase dos “Retratos”, a qual se estende por vários períodos e em que se consagra, como no dizer do pintor, uma idiossincrasia literária e poética do Humanismo Português: - e eis “Camilo”, “Antero”, “Pascoaes”, “Pessoa”, “Florbela”, “Aquilino”, “Natália”, “Torga”, “Eugénio”, “Cesariny”, “Moita Macedo”… Sendo que pelo meio deste processo iam acontecendo as “Verónicas”, as “Máscaras”, os “Bouquets”, os “Cavalos”, o “Ciclo de Sintra” – respectivamente, uma simbólica crística de antes e de depois dos “Cristos”; e a denúncia de um “rosto” ainda tocado por uma estranha dor; e flores que se enovelam com astros; e lezírias do Ribatejo natal, e vermelhos, ocres, siennas, das searas de um Alentejo-de-alma, com os “altares cósmicos”, teilhardianos, que Bual deixou em Santo António do Baldio; e os granitos pulsantes, “com coração dentro”, de Mons Lunae… Todo um imaginário de sublime metamorfose, de Natureza diagénica, que ainda falta ler e que, explícita ou implicitamente, sempre podemos encontrar na genial obra bualiana. Hugo Beja

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