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64 Bual Cristo(s): Bual e a Transcendência O crítico de arte Egídio Álvaro define o gesto - na pintura gestual - como “o sinal das forças interiores que se afrontam para engendrar qualquer coisa que fala à nossa consciência profunda” (1). Não é uma arte fácil. Nenhuma inovação, sobretudo artística, tem acolhimento unânime. Durante décadas, o gestualismo sofreu pela falta de enquadramento estilístico. Fugia dos padrões artísticos vigentes. Não ousamos aqui uma definição ou redefinição de beleza que os clássicos introduziram na complexidade e profundidade da filosofia. A beleza não é só estética, é também ideal. E é neste caminho que podemos arriscar uma reflexão sobre a impressiva inspiração bíblica na obra de Artur Bual. A beleza torna-se “mais percetível através da transfiguração que a arte consegue realizar com os seus recursos expressivos” (2), lembra o biblista e exegeta Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício da Cultura. O gestualismo de Bual “nunca atinge o abstracionismo do gesto levado ao extremo”, constata Manuel Cargaleiro, “tem sempre uma relação com o figurativo” (…) fazendo “uma relação de síntese entre o gesto livre e a estrutura do figurativo” (3). Não se trata de um artista que segue os padrões convencionais do crente praticante cristão ou católico, longe disso. Não podendo dissociar-se a obra das vivências em ambiente social e culturalmente católico, Bual é uma «provocação» da cultura à própria religião. A figuração e a abstração alternam-se e confundem-se na obra de Artur Bual, que pode sintetizar-se em duas frentes temáticas: a profana - «tourada», «cavalos», «meninas», «paisagens», «retratos» e «abstratos»… – e a religiosa, mais delimitada – «ceia», «crucificação», «cabeças» de Cristo e decoração de capelas sob encomenda -, conjugando o abstracionismo com a técnica retratista. Os amigos relatam que em ambiente de confraternização Bual desenhava «rostos» de Cristo inspirados em pessoas concretas. “Amigo é aquele que tem o direito de incomodar o amigo”, dizia Artur Bual. As relações fortes de amizade e cumplicidade devem também são um fator determinante na obra e inspiração do artista. O(s) Cristo(s) é (serão), entre todos, os mais expressivos dos «retratos» de Bual. Temperamental, o pintor rompe as convenções colocando nas «cabeças» de Cristo e nas «Crucificações» uma angustiante perceção da existência humana, como quem exprime uma busca de sentido e de sentimentos a partir de uma experiência de sofrimento que é, ao mesmo tempo, o eterno combate entre a dúvida e a certeza do devir. As suas obras dão “a oportunidade de viver a cada momento o maravilhoso ou o angustiante facto do mundo, onde todas as coisas são vistas a partir da sua beleza secreta”, disse o padre António Pedro Boto na missa de exéquias de Bual, em 1999. O eclesiástico comparou o artista a uma “«epifania» do Transcendente, que faz da natureza o lugar do seu resplendor”, entendendo que o rosto – as «cabeças» de Cristo – “terá sido a expressão de uma inquietude e irrequietude”. Como recorda Egídio Álvaro (4),

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