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bualRevisitado110414

63 Bual crente e ao artista, ao invocar enfim que, tal como na Arte, a beleza está na Natureza e ao afirmar que o artista “se liberta da caducidade do material”, das coisas materiais. Não sei o que disso pensaria Artur Bual, já no outro lado da vida, homem que foi de tantas latitudes e, no dizer de alguns, de muitas confissões, no sentido lato da palavra. Eu teria no entanto gostado de o ouvir comentar essas palavras, já póstumas para ele. A sua Pintura? Ela fala por si própria, e não serei eu a colocar aqui as etiquetas. Gestualismo? Action paiting? O que é isso? A sua pintura ultrapassa largamente as comodidades didáticas e a colagem obsessiva de grelhas, atrás das quais os críticos escolásticos se defendem e, não raramente, camuflam as suas próprias angústias existênciais. A lição de Bual está no seu trabalho, que há que perscrutar, à vista desarmada. Para entender, há que primeiro, provavelmente, desaprender muita coisa, ensinada nas escolas, capelas, ou partidos. Que cada um, face às suas telas e à sua obra, face à viagem através dessa pintura, sem lentes nem muletas, tal como ele, Bual, fez a sua própria viagem. Direi apenas que as “meninas” me interpelaram muito, pela fecunda mutilação dos corpos que elas me transmitem e que o cavalo, animal funerário por excelência, que puxa a charrete da morte nas religiões do paganismo, foi uma grande constante da sua pintura. Muito me interpelaram também os retratos — alguns imaginários —, entre outros, os de sua mãe e de sua esposa, mas também os de Raul Rego, o retrato imaginário da poetisa Conceição Baleizão, os de Aquilino Ribeiro, Teixeira de Pascoais, Cesariny, e Eduardo Nascimento, o amigo histórico e incontornável. Artur Bual realizou muitas exposições individuais em Portugal, nomeadamente na Câmara Municipal da Amadora, terra onde vivia e tinha o seu atelier, em Lisboa, no Porto, em Torres Novas, na Golegã e em Leiria, mas também no estrangeiro, nomeadamente na Holanda e em Paris, onde teve o prazer de ter escrito o texto de catálogo para a Galeria Magellan. Participou igualmente em várias exposições colectivas, em Portugal e no estrangeiro, (Brasil, Estados Unidos, França). Artur Bual, àquem e além da pintura, obteve também prémios, que valem o que valem: Prémio Nacional Sousa Cardoso, na Bienal de Paris, Primeiro Prémio do Salão de Arte Moderna da Junta de Turismo da Costa do Sol, Prémio da revista Nova Gente e Artes Plásticas 1984, entre outros. Logo após a sua morte e antes de recolher ao cemitério, o corpo de Artur Bual esteve presente “na Galeria da Câmara Municipal da Amadora” onde largas dezenas de amigos e admiradores do artista, para além dos seus queridos familiares, puderam estar presentes, a velá-lo, e onde a autarquia com o seu Presidente, solenizaram a guarda do silêncio. A disponibilização desse espaço foi um gesto de dignidade e de sensibilidade para com o artista e homem. Um gesto de sensibilidade para com todos nós. E a ti, Bual, que foste generoso na vida e na obra, fica-nos agora, a memória e a escrita fecunda da tua pintura. António Branquinho Pequeno 12 de janeiro de 1999 - “In Grande, Amadora 14/01/99”

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