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bualRevisitado110414

Existe uma saudade revisitada… Existe uma saudade trauteada de cavalos em galope, um cerco longo onde essa saudade cabe. Transfigura- se-me um silêncio de Cristo cheio de lágrima visível, de ser mais humano que o Homem. Um espinho de roseira, penetrando na mulher perdida, atenta à dádiva do corpo virgem. Ela que as pedras apontaram, depois do beijo santificado. Um cheiro a terra encharcada com os passos marcados na lama que alimenta o universo. Boca aberta na cova onde as raízes teimam em surgir. Nessa terra, dizias Bual que ela ainda dá as flores, eternamente perfumadas pelo beijo do corrimento perpétuo. Terra fecunda que o sonho exauriu. E rezas Bual, para dentro da cidade, como se abraçasses esse Cristo, que os cavalos esqueceram de levar, com a cruz do olival que a viu nascer. Passou por aí, muita seiva que descia e subia como se o bafo da encosta esperasse por uma última estrela beijando o sol surgindo, para um novo dia liberto. Uma nova luz de candeias, no monte Calvário. E eles lá estavam, os três quase perdoados e com segredos de chagas. Olhando para o céu. Existe uma saudade da longa noite de conversas, pincéis e música de uma tentativa de chegar ao fundo da caverna, onde se prendiam as luas culpadas das marés. E chorávamos por elas, como elas choravam pelos rios ou os mares tranquilos com peixes que vinham à tona. Era essa saudade Bual, vinda da nossa mãe, do nosso pai, com uma especialidade de Amigo, um cigarro aceso na mão esquerda, um pensamento de peito aberto para enfrentar aqueles que escondiam o segredo de existir. A tela descarnada. O esqueleto, que suporta o peso do gesto que acaba sempre num espasmo de gotas voando para o centro do desejo. E dizias que a amizade era um encontro dos poetas, uma ovação aos meninos que partilhavam as migalhas do tempo esquecido. Porque o tempo não se perdia quando se confessavam. E que tudo fica gravado mesmo dormindo para sonhar. E à janela do coração, a Guilhermina deliciava-se, sabendo ouvir. Sabendo ouvir acompanhando esses sonhos na descoberta do criar. Com uma atenção de bailarina que o escultor tenta apanhar. E como ela sabia dançar com a batuta dos pincéis! Tanta saudade acumulada de regresso para futuro de recusa. Intemporalidade magnífica quando os voos eram altamente profundos. E fecundos como um verbo, um conhecer, um estar quase lá, um ouvir o coração melodicamente como o princípio do regresso, a casa onde o repouso é a inquietude e o desejo da descoberta da simplicidade. Existe uma saudade Bual, uma sede revisitada e saciada pelas pegadas do teu deserto, onde poderemos entender de quantos espelhos compõem a ilusão, de que tudo está por fazer, na direção das tuas marcas que o sonho recusou desistir. Existe uma saudade… Eduardo Nascimento Março 2014 49 Bual

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