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bualRevisitado110414

Tive o privilégio de fruir essas ambiências, onde conheci muita gente; devo-lhe o ter feito o meu primeiro livro de poesia, por via de uma ida ao “Botequim”, de Natália Correia, depois de termos escutado Eugénio de Andrade - o que motivou desenhos dele e um poema meu que a Diva elogiou. Presente, um editor atento, logo me incentivou a publicar esse longínquo “Da Água e do Vento”. É também biográfico, falarmos de alguém, que tanto nos marcou. Falar de Bual é lembrar a decisão de ter ido jantar o seu bitoque, após longa espera, por um subsecretário de Estado da Cultura que, ao chegar à Galeria, em Oeiras, não tinha o autor da exposição, para o receber. A irreverência sempre foi o seu cunho distintivo. Falar de Bual é evocar uma enorme sucessão de momentos de partilha e aprendizagem, sem endeusamento, porque era escandalosamente humano. Andei com um quadro ao colo, pelas ruas de Lisboa, o melhor que o poeta de “Branco no Branco” recebeu dos seus amigos pintores, sendo objectivo maior essa obra integrar uma mostra de retratos, assinados por grandes vultos da Arte Contemporânea Portuguesa. Com uma personalidade fortíssima, capaz de num instante expulsar os convivas do atelier (cena a que escapei), como noutro telefonar, lamentando que os amigos verdadeiros não estivessem ao seu lado, “obrigando-me” a sair da cama, engripado, e voar para a Amadora, num táxi para jantar com ele, a verdade é que — por tudo o que ele significa — a sua morte criou um vazio na Arte e no Círculo de Amigos, que a Associação criada para o celebrar, da qual fui co-fundador, em parte procurou colmatar. Ficou a obra e esse grupo, que se esforça para não deixar apagar a sua memória, num país ingrato. O atelier desapareceu, a Guilhermina também partiu… Subsiste a eterna, grande energia, que se depreende da intensidade dos Cristos, da força telúrica dos Alentejos, elaborados com terra do sul, da tinta-sangue-de-boi, trazida de Torres Novas, do lambriz das casas do Largo da Infância, das meninas impetuosas, daquelas mãos que eram o olhar do menino que o professor primário garantiu que não sabia pintar… E os Amigos que nunca o esquecerão. Lisboa, 3/3/2014; 1:30 Luís Filipe Maçarico 31 Bual

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